terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Sicko


Já todos conhecem Michael Moore: é cínico, irónico e uma dor de cabeça para todos os políticos americanos, de Hillary Clinton a George W. Bush. Ultimamente, têm-se questionado muito os seus métodos, a sua imparcialidade, a manipulação cinematográfica dos seus documentários, etc. Admita-se, Moore raramente dá oportunidade de defesa aos seus adversários e oculta falhas importantes nos seus argumentos. Mas nada disso muda o facto de que Moore denúncia, em documentários mordazes e repletos de um humor amargo e agridoce, os grandes males da (grande?) nação dos Estados Unidos da América.

Em “Sicko”, o alvo a abater é o sistema de saúde americano, privatizado e gerido pelas companhias de seguro americanas. É a história de médicos que recebem promoções astronómicas por não curar doentes terminais, de doentes a quem são recusados tratamentos por terem tido constipações quando eram crianças, e a história de mil e um milionários que fazem dinheiro à custa do sofrimento dos outros. A meio deste triste conto, Moore viaja para o Canadá e para a Europa e descobre algo de novo e extraordinário: a Social Democracia. Descobre que, por estes lados, as férias e folgas são em grande número, que se recebem subsídios de férias e de doença, que a saúde é grátis, que os medicamentos são pagos pelo estado, e que tudo isto é pago pelos impostos, sem que por isso deixe de existir dinheiro para comprar automóveis e LCD’s.

Para os Americanos, “Sicko” é o relembrar duma terrível realidade e um abrir de olhos para o que a América poderia ter sido: um país não só rico financeiramente, mas também socialmente. Para os Europeus, é um abrir de olhos para a realidade que os espera, se continuarem a usar como referência o modelo de desenvolvimento americano. O mais triste de tudo isto, é que Moore, como Al Gore, arrisca-se a passar a sua mensagem, mas a não mudar nada no estado das coisas… que ao menos tenha direito ao Nobel da Revolta.

Por Rui Craveirinha

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